quarta-feira, fevereiro 03, 2010
fora ou dentro
quinta-feira, julho 17, 2008
através do espelho
eu, em primeira pessoa, como eu disse no primeiro parágrafo, me senti incrivelmente bem assistindo a esse filme por conseguir achar nele pequenos detalhes que fazem parte de mim, mas que muitas vezes ficam perdidos no meio de exentricidades, particularidades, detalhes pessoais. o fato de os personagens preencherem todas as lacunas de seu discurso com palavrões, as mãos chacoalhando, os cabelos mal penteados e a sesta até às 16h: são coisas de um país onde não vivi mais do que quatro anos, mas que sempre me envolveu com grandes alegrias e tristezas - mesmo quando eu dizia ser brasileira.
não sei se é por uma tentativa possivelmente em vão de me adaptar aos termos de comunicabilidade do mundo que não é o de alvarez, mas tenho objetivos sérios de continuar desenvolvendo este post por mais outros seis, para tirar os eventuais leitores da ignorância no que tange à autora deste texto e seus compromissos pessoais com a argentina; assim como sobre o que concerne a buenos aires 100km e a outros detalhes que provavelmente passaram batidos.
segunda-feira, abril 02, 2007
quando estiver bem, estarei
no começo, o caldo é claro, quase transparente, pouco espesso, aerado: nossas necessidades são básicas e, na maioria das vezes, elas nos são concedidas sem grandes esforços. nossa aparência ajuda, o choro fácil sublinha o instinto maternal presente em pouco mais de metade da população mundial. temos a opção de ficar na superfície do caldo, mas apesar de parecer o mais fácil a se realizar, pouca gente o faz - por convenção social. é pouco comum os indivíduos que remanescem nessa faixa do caldo não serem chamados de retardados, preguiçosos, especiais, idiotas ou imbecis – entre outros – depois de terem passado, no máximo, dos seus cinco anos de idade. a partir daí, as coisas ficam mais subjetivas.
até o quinto ano de vida - ou de caldo, como quiser - a evolução é quase que tabelada: primeiro, o bebê aprende a mamar na mamadeira, sem a ajuda da mãe; depois aprender a se virar no bercinho. logo, levanta a cabeça e começa a sentir vontade de engatinhar. quando já se sente experiente nessa última atividade, passa a querer andar e para isso começa a se sustentar em apenas duas pernas. quando sabe andar, pode parar de usar fraldas, e assim vai. até que chega aos bancos escolares e se depara com a necessidade de decifrar as letras. até esse momento, todos tentaram seguir o mesmo esquema, e chegaram, todos, a uma profundidade bastante semelhante do caldo. todos precisaram fortalecer seu coração. todos sofreram com a frustração da primeira queda. alguns já ouviram um não.
o caldo engrossa cada vez mais, de acordo com a profundidade; fica cada vez mais azulado, denso, sem oxigênio, nauseantemente viscoso. poucos vêem um motivo para entrar cada vez mais fundo; e menos ainda são aqueles que, além de se aventurar por esses recônditos assustadores, se sentem recompensados satisfatoriamente pelo simples fato de poderem circular livremente por qualquer profundidade do caldo. é bastante mais cômodo, e comum, ficar na profundidade x, na qual ainda se pode falar qualquer tipo de asneira sem sentir culpa, na qual se pode aprender algo novo muito de vez em quando sem se sentir a estagnação nos ossos, na qual simplesmente reconhecer o que está escrito é muito melhor do que realmente pensar no que está entre uma letra e outra. nessa altura, é necessário fazer fazer fazer fazer, é necessário nunca parar, porque os pulmões ainda não são nada, porque o coração ainda não sabe ver que mesmo quando não se faz, se é.
apesar de o caldo ser escuro e pouco atraente, talvez ele seja um refúgio para aqueles que, depois de cansarem seus músculos de tanto escrever até altas horas da noite sem realmente perceber o que se passa a meio metro da sala do computador, queiram dar outra opção aos seus órgãos.
assim como os túneis de nossa saudosa josy, o caldo também tem seus mecanismos de funcionamento: mesmo pulmões muito potentes e corações muito calorosos não agüentam as profundidades mais terríveis por tanto tempo. às vezes é necessário ser um idiota, pensar apenas em mamar, em dormir e chorar. para logo mergulhar fundo de novo. bem vindo ao caldo.
quarta-feira, janeiro 31, 2007
a putinha francesa e o lorde inglês
domingo, dezembro 24, 2006
comprei um sapatênis e uma vaca
quinta-feira, novembro 09, 2006
regina e a xícara de porcelana
estava agora sentada a uma mesa nua, sem toalha, de frente para uma parede nua, sem quadros ou cor expressiva. morava em uma quitinete; não porque não tivesse como ter melhor, mas porque o costume de ser tiranizada ainda estava enraizado em seus hábitos forçadamente inconscientes. olhava para o chá e pensava. pensava no nada que sentia por não ter mais a loucura do outro para esconder a sua própria. passara 12 anos diluindo pílulas no chá preto de seu cônjuge e agora tinha que, ela mesma, comprar os florais de Bach que tomaria, seguindo rigorosamente todas as indicações, na intenção de um dia tirar o peso do mundo de suas costas.
no momento em que decidira pegar apenas aqueles dois objetos aparentemente tão incoerentes para alguém que se prepara para a vida em um mundo novo, optara por uma vida pungente, simples e intensa. adquirira o costume, em apenas duas semanas, de se dar pequenos presentes e pensar que cada um deles era responsável por um pouco mais de verdade e conforto em sua vida. o minimalismo material estava ali para desnudar suas emoções e seus pensamentos, que por tantos anos haviam ficado escondidos debaixo da cama king-size, que pouco pela paixão havia feito. mais havia ajudado cada um dos dois a se sentir mais acolhido em sua solidão.