quarta-feira, fevereiro 03, 2010

fora ou dentro



uma cortina de tecido duvidoso, de cor desbotada, com alguns dos rodízios (aquelas coisas amarelinhas que permitem que ao puxar fortemente o tecido ele faça o barulhinho típico de início de dia) caindo do trilho. o próprio trilho um pouco sujo, com marcas de ferrugem deixando os parafusos que o prendem a parede bem à vista. eu quero cortinas novas neste apartamento que antes de ser meu (mediante um contrato de locação) já deve ter sido de tantos outros. não são só as cortinas que eu quero trocar; ter tantos quereres referentes a um só lugar - o lugar onde se passa pelo menos metade de todos os dias - da a impressão de ter que se inventar de novo. não é coerente se mudar. não é coerente levar tudo o que já se tinha e se era em outro lugar e apenas colocar em uma nova caixa; a forma de organizar o conteúdo o modifica.
muitas vezes, ao organizar uma caixa com materiais (trecos), o fato de tentar e retentar disposições acaba fazendo com que se joguem coisas fora. com que se consertem outras; com que repensemos a utilidade de cada objeto que queremos guardar. às vezes se descobre que na realidade a caixa é desnecessária. em outros casos a caixa é atraente; paramos as compras no supermercado para voltar na seção de organização e pegar uma caixa de papel revestida com papel verde brilhante - mas não temos nada pra por dentro.
não sei se gosto do apartamento; nem sei se tenho algo para por dentro.

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