terça-feira, agosto 01, 2006

às vezes é preciso ser alguém.

acordo às oito em ponto e me sinto um pouco confusa. é o toque do celular que me arranca do sono e é isso que não deixa meu acordar ser algo prazeroso: não é ninguém me ligando; é simplesmente a função “despertador”, que eu mesma ativei. toda manhã é a mesma coisa: um acordar assustado, seguido de uma pequena pitada de auto-importância logo cortada pelo fato de não ser ninguém precisando de mim, se não minha simples rotina me chamando. quando me dou conta de que isso significa que eu mesma estou me chamando para sair da cama, sinto vontade de continuar dormindo: o mundo dos sonhos é algo muito mais instigante que sair do quarto para ir para a cozinha e não ter nada pra fazer. continuo dormindo, mas não me esqueço de pôr o celular no módulo “soneca”, para me passar a falsa sensação de ser uma pessoa de-bem-com-a-vida.

na realidade eu sou, mas do meu jeito.

acordo às oito e quinze e me sinto um pouco confusa. é o toque do celular que me arranca do sono (que desta vez, apesar de ser muito recente, é tão profundo quanto o anterior) e é isso que não deixa meu despertar ser algo prazeroso: não é alguém... triiiiiiiiiiiiiiiiim triiiiiiiiiiiiiiiiim triiiiiiiiiiiiiiiiim triiiiiiiiiiiiiiiiim. continuo dormindo, mas não esqueço de deixar o celular no módulo “soneca”, para me passar a falsa certeza de ser uma pessoa de-bem-com-a-vida.

na realidade eu sou, mas do meu jeito.

cada vez que eu repito essa frase, um prego vai me prendendo à cama e, lá pelas 10 horas e meia, eu me dou conta de que se eu não arrancar todos juntos, de uma vez, eles vão continuar virando mais e mais e mais e em certo momento eu não vou conseguir me levantar nunca mais, tornando-me, então, uma pessoa realmente nada de-bem-com-a-vida. saio do emaranhado de cobertores, lençóis, travesseiros e almofadas – um verdadeiro mundo a parte – e sinto uma dor profunda: o que é que eu vou poder fazer nesse tempo tão curtinho, daqui até o meio dia?

nada. amanhã eu acordo mais cedo. juro.

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