segunda-feira, maio 08, 2006

síndrome de asperger temporária

viciei no jogo. eu, que aos 37 anos tinha conseguido tudo o que um homem de classe média pode ter (uma família bonita, uma casa em bairro nobre, o carro do ano, um emprego fixo e decente, e uma péssima vida sexual) não pude agüentar o tédio de ter todos meus sonhos medíocres realizados e fui jogar. corridas de cavalo. levei muito tempo pensando em que eu poderia escolher pra dar mais emoção a minha vida - há inúmeras opções, mas todas têm um porém. a que tinha o porém aparentemente menor, era o jogo. eu podia ter escolhido o cigarro, mas esse deixa cheiro e como bom pai de classe média alta, eu tinha que manter a posição de antitabagista ferrenho. podia ter escolhido a luxúria, mas perder minha mulher pra uma ninfeta de 17 anos podia ser tão excitante quanto desastroso. emfim, o leque de oportunidades ludibriantes que se abria à minha frente era enorme, a que tinha a melhor relação custo benefício, porém, era a das corridas: só gastava meu dinheiro, o que, sendo eu vice-presidente da maior empresa de rodas para caminhão da sub-região, não era problema nenhum. isso é o que eu achava no começo, na primeira vez que cedi ao convite de um colega do escritório. o que veio depois, porém, foi algo muito mais envolvente: primeiro, ia uma vez por semana, nas sextas, depois do trabalho. fazia pequenos "investimentos", sempre falhos, claro - ainda era um iniciante. às vezes, até deixava de ir - quando henrique não ia, ou quando as crianças estavam doentes.

texto iniciado em meados de 2004 e nunca terminado.

3 comentários:

l.ratamero disse...

eu lembro de quando você me passou esse texto.
faz tanto tempo. o_o

Unknown disse...

hey, nostalgia. eu lembro que esse texto me deixou feliz.

Alvarez, Lucía disse...

e agora eu lembrei que 2004 não é 2005.